terça-feira, 17 de março de 2020

Nupecampo promove Roda de Conversa sobre os desafios da Educação do Campo no Brasil

Na tarde da última segunda-feira (16/03) foi realizada a Roda de Conversa sobre “os avanços e desafios das políticas de Educação do Campo no Brasil”, promovida pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação do Campo (NUPECAMPO), da Universidade Federal do Piauí (UFPI). O evento aconteceu na sala de vídeo do Centro de Ciências da Educação (CCE), às 15h.
A Roda de Conversa contou com a participação da Professora da Universidade Federal da Paraíba, Dra. Maria Socorro Xavier Batista, que desenvolve pesquisas sobre Educação Popular, Movimentos Sociais e Educação do Campo. No evento, ela abordou a conjuntura atual da Educação do Campo no Nordeste, destacando os desafios enfrentados pelos movimentos sociais e povos do campo com os cortes das políticas educacionais para este território.
Esteve presente também o presidente da Associação Regional das Famílias Agrícolas do Piauí (AEFAPI), Leandro Paz, que propiciou um debate sobre as Escolas Famílias Agrícolas (EFAs) no Piauí, que promovem educação aos sujeitos do campo por meio da pedagogia da alternância, com a oferta de cursos técnicos nas áreas de Agropecuária, Agroindústria, Zootecnia e Turismo. Paz destacou que as 17 EFAs do Piauí recebem recursos do Governo do Estado para garantir a manutenção das escolas e a contratação dos professores. O maior desafio é a formação e a rotatividade dos professores que atuam nestas instituições de ensino.
Segundo o professor de Sociologia, Saulo Albuquerque Gomes, do curso de Licenciatura e Educação do Campo (LEDOC) da UFPI, campus de Floriano, é necessário entender e aprender a conjuntura enfrentada na área da Educação do Campo e fomentar a formação política dos camponeses com propósito de fortalecer a luta na defesa dos direitos dos povos do campo. “Não é momento de conquistar, é momento de manter as conquistas”, afirma.
O representante do movimento estudantil, Messias Nassau, do curso de Licenciatura em Educação do Campo, reafirmou a relevância das lutas dos estudantes e dos movimentos sociais para garantir o acesso dos jovens do campo à universidade. Destacou também que as lutas desenvolvidas pelos estudantes da LEDOC na UFPI têm contribuído na melhoria da qualidade do curso e na formação crítica destes jovens. “Quem oxigena a Licenciatura em Educação do Campo são os estudantes”, ressalta.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

UESPI lança edital de Especialização em Pedagogia da Alternância


A Universidade Estadual do Piauí (UESPI),em parceria com Associação Regional das Escolas Família Agrícola do Piauí (AEFAPI), lançou edital oferecendo 50 vagas para o Curso de Especialização em Pedagogia da Alternância na Educação do Campo.

O curso funcionará na modalidade semipresencial,em regime de alternância (alternando Tempo de Universidade com Tempo Socioprofissional) e terá duração de 18 meses, com início no primeiro semestre de 2020, com etapas realizadas nos municípios de Pedro II, Teresina e Oeiras.

As 50 (cinquentas) vagas deste Curso serão distribuídas da seguinte forma: 40 quarenta) para a AEFAPI Piauí, 05 (cinco) para o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e 05 (cinco) para a comunidade em geral.

As inscrições serão realizadas no período de 07 a 21/01/2020, na Sede da Associação Regional das Escolas Famílias Agrícola do Piauí (AEFAPI). A seleção dos/as candidatos/as será realizada por meio da análise do Projeto de Intervenção,Memorial Descritivo e do Currículo comprovado, conforme prevê edital.

Veja o Edital e as normas de inscrição.

quinta-feira, 30 de maio de 2019

Fórum do Semiárido promove intercâmbio de experiência sobre educação contextualizada no Piauí

O Fórum Piauiense de Convivência com o Semiárido promoveu, nos dias 24 e 25 de maio, na Ecoescola Thomas a Kempis em Pedro II, o Intercâmbio de Professoras/es que atuam nas escolas do Semiárido do Piauí, com o intuito de promover a troca de experiências acerca da educação contextualizada.
O evento contou com a participação de cerca 80 educadores/as das regiões norte e centro sul do Piauí que participaram da formação desenvolvida pelo Programa Cisterna nas Escolas, implementado pela Articulação no Semiárido Brasileiro (Asa Brasil).
Durante o intercâmbio, o sociólogo Carlos Humberto Campos, membro do Fórum do Semiárido destacou os avanços conquistados nos últimos anos na área da educação para a convivência com o semiárido no Piauí a partir do trabalho do Projeto Cisternas nas Escolas e do trabalho da Rede de Educação no Semiárido Brasileiro (RESAB).
“O projeto (Cisterna nas Escolas) trouxe a oportunidade de debater a educação e a valorização da cultura local, oportunizou também reafirmar de que o Semiárido é uma terra fantástica, um território belíssimo, cheio de oportunidades”. O palestrante lembrou também de que o projeto promoveu ainda o fortalecimento do modelo de educação contextualizada, onde traz como protagonista o saber e a cultura locais.
Um outro momento forte de troca de conhecimentos ocorreu também durante o depoimento das integrantes dos povos indígenas Potiguara do Ceará. Teca Potiguara, umas das lideranças indígenas convidadas, relatou algumas das bandeiras de lutas das aldeias no município de Monsenhor Tabosa - CE. Entre os desafios citados estar a luta pela terra e pelo direito a educação contextualizada nas aldeias. Destacou que a partir da luta dos povos indígenas já conquistaram sua escola indígena estadual, mas que precisam avançar muito, pois grande parte das propostas ainda não sai do papel.
Na tarde de sexta feria (25/05), houve a apresentação da experiência de educação para a convivência com o semiárido desenvolvido pela Escola Municipal Liberato Vieira, do município de Ipiranga do Piauí. Com a socialização dos projetos construídos em parceria com a comunidade, foi possível perceber o quanto a escola evoluiu na construção de conhecimentos e saberes voltados ao contexto sociocultural dos/as educandos/as. Segundo a professora Heulália, uma das apresentadoras da proposta, a Escola Liberato Vieira é hoje uma referência no município, principalmente pela metodologia que a escola trabalha com seus alunos. “Realizamos seminários ambientais, participamos de intercâmbios em outros estados, além do viveiro de mudas que cultivamos após a chegada da cisterna na escola. Nossas ações realizadas tanto com os/as educandos/as quanto com as famílias da comunidade, tem nos oportunizados receber a visita de vários grupos, agricultores/as e professoras/es de outras escolas durante o ano”, disse Heulália.
Ainda no primeiro dia de intercâmbio, o professor da Universidade Federal do Piauí, Elmo de Souza Lima, membro da Rede de Educação no Semiárido Brasileiro (RESAB), proferiu a palestra “Educação do Campo: conquistas e desafios”, destacando os avanços e os desafios vivenciados a partir das lutas dos movimentos sociais na implementação do projeto de educação do campo nas escolas do semiárido.
Segundo o professor, é necessário que os movimentos sociais do semiárido assumam essa luta na defesa dos direitos a educação contextualizada, publica e de qualidade.  “Nós só vamos conseguir mudar essa realidade que a gente vive no Semiárido, quando nós conseguirmos garantir a esses jovens o direito a uma educação de qualidade, o direito ao acesso a um conhecimento que permita essas pessoas se reconhecerem como sujeitos capazes de transformar essa realidade”, comentou o professor.
No segundo dia, outras duas escolas apresentaram suas experiências focadas no protagonismo do Semiárido. A primeira a trazer suas experiências foi a Ecoescola Thomas a Kempis de Pedro II, local onde acontecia o evento. Inicialmente o público conheceu as áreas da escola onde os/as educadores/as e técnicos trabalham as aulas práticas com os alunos como o cultivo e manejo das hortas agroecológicas, produção de composto orgânico, manejo de pequenos animais entre outras boas práticas de convivência com o Semiárido.
No segundo momento, a coordenadora pedagógica Jaqueline de Sousa apresentou o resultado de uma pesquisa científica onde traz relatos de jovens estudantes destacando a mudança de olhares sobre o conceito de vida no campo, o quanto esse olhar mudou, após alguns anos de estudos na Ecoescola.
A programação do evento contemplou ainda a apresentação do professor Francilândio da comunidade Brejinho do município de Milton Brandão, demonstrando o novo jeito de trabalhar com as crianças a partir do despertar que ele teve ao participar dos cursos, oficinas e intercâmbios promovidos pelo projeto Cisternas nas Escolas. O professor apresentou um projeto pedagógico de sua autoria que estar desenvolvendo comunidade onde trabalha, onde os alunos começaram a transformar o ambiente da escola na manutenção da horta escolar, os estudos adaptados com o contexto local como os animais e plantas nativas existentes na região entre outros.
A organização do evento trouxe para a parte final do intercâmbio, algumas proposições no campo dos encaminhamentos. Ente eles, o compromisso de professoras/es, direções e coordenações das escolas incluírem em suas propostas pedagógicas, ações que contemplem o contexto da comunidade. Também ficou a proposta para que o Fórum Piauiense continue articulando e motivando esse tipo de espaço para que o debate e a troca de conhecimentos possam ter continuidade.
Fonte: Ascom FPCSA

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

As eleições e os dilemas da educação pública brasileira


O processo eleitoral de 2018 tornou o cenário político brasileiro ainda mais tenso e incerto, principalmente com o ressurgimento de forças ultraconservadoras que, movidas pelo espírito autoritário e fascista, põe em cheque os princípios democráticos pactuados no Brasil a partir da Constituição de 1988 que, em tese, deveriam orientar os processos democráticos no país.
Em meio aos embates políticos, observamos que passa despercebido, no seio da sociedade e no âmbito das instituições de ensino, os riscos que o processo eleitoral trazer para o campo da educação. O golpe parlamentar de 2016 fez avançar o processo de destruição da educação pública, com a forte influência das corporações empresariais sobre as políticas educacionais, principalmente na definição dos princípios políticos e ideológicos que irão nortear as políticas curriculares das escolas públicas, tendo como foco os falsos discursos da meritocracia e da educação de qualidade para esconder os verdadeiros interesses economicistas que permeiam as políticas neoliberais.
Sob a influência do mercado e do ideário neoliberal, cresce uma tendência de privatização da educação pública: 1) com as propostas de cobranças de taxas nas instituições públicas, sob o argumento da insuficiência de recursos públicos para garantir o direito a educação a população mais pobre do país; 2) com a contratação de empresa para assumir a gestão política e pedagógica das escolas através das políticas de terceirização dos serviços públicos atreladas muitas vezes aos acordos políticos que alimentam os esquemas de corrupção; 3) com a aquisição de pacotes educacionais (composto de materiais didáticos, formação continuada dos profissionais e o assessoramento pedagógico das redes públicas), que favorecem o repasse de uma parcela significativa de recursos públicos para os grupos de educação privada.
Por outro lado, surfando sobre o discurso da precariedade da educação pública, cresce o número de corporações nacionais e internacionais que passam a investir na educação privada, transformando este setor num dos mais lucrativos do mundo.
Além deste cenário, temos ainda a ofensiva das forças ultraconservadoras com suas pautas autoritárias, permeadas pelas ideologias machistas, fascistas e xenófobas que tentam silenciar as escolas com a propagação de projetos educativos ortodoxos que nega a diversidade de pensamentos, culturas e práticas sociais que permeiam as sociedades democráticas. Diante desse contexto, notamos que se mantém viva a luta dos movimentos sociais que resistem e denunciam o desmonte da educação pública e reafirmam o direito da população brasileira a educação pública e gratuita.
A partir de 2003, em meio às contradições políticas dos governos progressistas, passamos a conviver com avanços significativos no campo da educação, com a implantação de programas e políticas educacionais que apontavam na perspectiva do fortalecimento e expansão da educação pública e na construção de projetos educativos comprometidos com a democratização das escolas e o reconhecimento das diversidade culturais e sociais que caracteriza a sociedade brasileira, garantindo as populações mais pobres o direito a educação. Em virtude disso, precisamos apostar num candidato que tenha o compromisso com o fortalecimento da educação pública associado a construção de um projeto de sociedade justo e democrático.
Elmo de Souza Lima - Doutor em Educação e professor do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Piauí (UFPI).

domingo, 9 de setembro de 2018

A ditadura do IDEB na educação brasileira

 O resultado do IDEB 2017, divulgado recentemente pelo INEP/MEC, tem provocado um verdadeiro alvoroço nos municípios brasileiros, principalmente no semiárido nordestino, desencadeando fortes pressões e perseguições às escolas e aos profissionais da educação.
É preocupante a forma como as secretarias municipais de educação tem utilizado o resultado do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) para coibir e limitar o desenvolvimento de projetos educativos inovadores voltados à realidade dos educandos e a reflexão crítica dos problemas sociais, políticos e econômicos que afetam as comunidades e o país.
Sob a influência do receituário neoliberal, as secretarias de educação estão promovendo uma verdadeira caça as bruxas com relação às escolas e aos educadores que não seguem os preceitos políticos e pedagógicos deste modelo de educação neotecnicista, que prioriza o desenvolvimento das habilidades cognitivas, exigidas nos exames e testes aplicados pelo MEC, em detrimento de uma formação crítica associada ao desenvolvimento da autonomia dos educandos.
Neste contexto, os projetos de educação do campo e educação para a convivência com o semiárido estão sofrendo fortes ataques nas secretarias municipais de educação por considerarem que estes projetos não estão contribuindo para a melhoria dos índices da educação dos municípios.
Ao usar este argumento, as secretarias de educação atribuem aos profissionais da educação a responsabilidade pelos baixos índices das escolas do campo e se eximem da responsabilidade de garantir uma educação de qualidade para os camponeses.
Além disso, silencia diante da situação de exclusão e desigualdades sociais que permeiam as comunidades rurais, que reflete fortemente no desenvolvimento sócio educacional das crianças e adolescentes, fruto do descaso do poder público com a população.
Os projetos de educação do campo estão voltados à formação integral dos educandos que, além de contemplar o desenvolvimento cognitivo das crianças e adolescentes, tem como foco a formação crítica e ética dos jovens, baseada nos princípios da cooperação, solidariedade, fraternidade e da justiça social, aspectos que talvez cause desconforto em certos gestores públicos. São projetos concebidos com o propósito de desenvolver conhecimentos, atitudes e valores associados a construção de uma sociedade justa e democrática.
 Elmo de Souza Lima - Doutor em Educação e professor do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Piauí (UFPI).

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Vivemos tempos difíceis: mas o sonho não acabou


O país acordou num ambiente diferente, nesta quinta-feira, com o resultado do julgamento ocorrido ontem (24/01), no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), em Porto Alegre, que condenou sem prova o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a 12 anos de reclusão.
Presenciamos, por um lado, a comemoração dos setores conservadores da sociedade, capitaneados pelos setores da mídia e da elite financeira, que apostam na exclusão do petista das eleições presidenciais de 2018 e, por outro, a revolta de setores populares que denunciam a perseguição política contra o ex-presidente.
Para aqueles que acreditam que a decisão de ontem foi uma derrota do ex-presidente Lula, podem estar redondamente enganados. Ao invés de abatimento, vejo ressurgir no meio popular uma grande indignação contra as injustiças históricas, cometidas pelas elites, contra as classes populares, sempre com a conivência de juízes e promotores.
Por essa razão, as mobilizações ocorridas em torno da defesa pública do ex-presidente e do seu direito de ser candidato, pode ser o começo de uma verdadeira luta política contra a imparcialidade da justiça brasileira e as injustiças históricas vivenciadas pelo povo brasileiro.
A sentença proferida pelo TRF-4, que condenou o maior líder político do Brasil sem apresentação de provas, faz ressurgir o sentimento de injustiça que a população excluída carrega dentro de si a partir da convivência diária com as práticas autoritários do poder judiciário. Com o discurso da imparcialidade, os juízes atuam nas periferias reafirmando este processo desigual, parcial e injusto de aplicação da lei que, em grande medida, nega à classe trabalhadora os direitos básicos garantidos constitucionalmente aos cidadãos brasileiros.
Não é por acaso que o fato ocorrido ontem não represente uma novidade para uma parcela significativa da população brasileira, que convivem há séculos com as injustiças ocorridas a partir das decisões tomadas pelo judiciário para atender aos interesses políticos e econômicos dos grupos dominantes.
Neste caso, o resultado do julgamento contra o ex-presidente Lula somente escancarou para o mundo uma prática corriqueira da magistratura brasileira, de comprometimento com os interesses dos senhores da Casa Grande. Os juízes do TRF-4 não agiram somente pela condenação do Lula, mas pela desconstrução de um projeto político de inclusão social e de emancipação das classes populares, iniciado em 2003.
Para os desavisados e ingênuos que comemoram a condenação do ex-presidente, é importante avisá-los que as únicas pessoas que verdadeiramente podem riem neste momento são os ricos deste país, que estão vendo a possibilidade concreta de aprofundar as práticas de opressão e escravização da classe trabalhadora, com a plena conivência do aparato do Estado, para manter seus privilégios.
Neste caso, se estes que comemoram agora não fazem parte deste grupo seleto e restrito, se não integra o grupo dos 5% da população que detém a maior parte da riqueza do país, podem veem seus sorrisos, em pouco tempo, se transformarem em tristeza com o aprofundamento da perda dos direitos trabalhistas, previdenciários e do acesso gratuito à saúde e educação.

Elmo de Souza Lima - Doutor em Educação e professor do Centro de Ciências da Educação da Universidade Federal do Piauí (UFPI).

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

O papel da educação na construção de uma sociedade ética e democrática


Diante do cenário político e social que estamos vivendo no Brasil é comum nos deparamos com discursos moralistas que determinam como deveriam agir nossos políticos, atribuindo-lhes inúmeras regras de comportamentos éticos a ser adotados na condução e zelo da coisa pública. No entanto, quase não vejo reflexões que nos ajudem a compreender as raízes históricas destes problemas ou apontem as alternativas que possam realmente reduzir estes desvios éticos que estão na base da cultura política do povo brasileiro.
Cabe-nos perceber que essas fragilidades referentes as atitudes éticas não é exclusividade daqueles que ocupam cargos públicos, pois é algo que se tornou comum na vida cotidiana, amparado por valores relativistas e permissivos que convencionamos chamar de “jeitinho brasileiro”. Não é por acaso que estas atitudes antiéticas sejam consideradas por alguns como “virtude”, associada as habilidades e capacidades de alguns indivíduos de burlarem as regras sociais, estabelecendo uma relação de privilégio diante dos outros. Pasmem, mas estas atitudes chegam a ser consideradas uma destreza, comuns às pessoas “inteligentes” e “espertas”.
Por essa razão, compreendo que esta “falta de ética”, atribuída ao campo da política partidária, tem suas raízes na cultura política de uma parcela singificativa da população brasileira, sendo inclusive reforçada, em grande medida, pelo modelo de educação ou “deseducação” que oferecemos aos nossos jovens. Nos referimos aqui a educação no seu sentido amplo, que engloba os processos de socialização de valores e conhecimentos difundidos às novas gerações, pelas diferentes instituições sociais, escolares e acadêmicas, centrados boa parte deles dentro de uma lógica individualista voltados ao sucesso individual, em detrimento do bem comum.
Nessa perspectiva, parte das soluções que se busca para os problemas éticos no campo da política governamental ou partidária, podem estar exatamente naquilo que compõe a base cultural e política da sociedade, a educação. É exatamente por meio dos valores, conhecimentos e princípios ético-políticos que apresentamos e vivenciamos com os jovens, como modelo a ser seguindo que vão definir em certa medida as suas práticas e atitudes na esfera social.
Este processo de crise social no qual estamos inseridos, refletidos por meio da corrupção, violência, intorelância, ódio e desesperança, constitui-se num alerta quanto a urgência de fazermos um debate sério com a sociedade sobre a importância da educação na construção de outro modelo de sociabilidade pautado em princípios éticos, solidários e democráticos. No entanto, este debate precisa superar os clichês da mídia, de soluções fáceis, rápidas e superficiais, buscando estabelecer um pacto político entre os vários setores políticos e sociais com o compromisso de discutir um projeto de educação que promova uma revisão crítica destes valores e conhecimentos que dão sustentação a este modelo sociadade que tanto criticamos.
Neste contexto, pensar a construção de uma nação ética e justa passa pelo desenvolvimento de projetos de formação cultural e política que oportunizem aos cidadãos a vivência e a incorportação destes princípios em suas práticas sociais. Um projeto de educação voltado à construção de novos referenciais ético-políticos e culturais que se constituam nos pilares deste projeto de sociedade, menos injusto e desigual.
Em alguns países com democracias consolidadas, a educação pública é compreendida como um instrumento político de promoção da equidade e da democracia, portanto um patrimônio nacional. No Brasil, não podemos continuar com essa racionalidade meramente utilitarista e mercantilista da educação, assumida por parte da classe média brasileira, que a veem como um instrumento de manutenção do "status quo" e da distinção entre classes sociais. Uma racionalidade que nega a importância política e cultural da escola pública e dar prioridade ao ensino privado como forma de consolidar um modelo de segregação social. Só teremos um país verdadeiramente democrático quando tivermos a capacidade de construir uma educação pública, gratuita e de qualidade para todos.
É claro que não podemos ser ingênuo em acreditar que a educação sozinha tem o poder de tranformar a sociedade. Mas como dizia Paulo Freire, a educação sozinha não transforma a sociedade, mas sem ela tampouco a sociedade muda, pois a educação transforma as pessoas que se tornam agentes de transformação da sociedade.
Se realmente quiseremos transformar o nosso país numa nação ética e democrática, precisamos repensar urgentemente os princípios políticos que dão sustentação os projetos educativos implementados em nossas instituições educativas, sejam escolas e universidades ou outras organizações sociais, que atuam direta e indiretamente na formação cultural e política da população.


Elmo de Souza Lima - Doutor em Educação e professor do Centro de Ciências da Educação da Universidade Federal do Piauí (UFPI).